quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ferida

A ferida continua aberta.
É duro caminhar sem ti.
Quero ligar-te, ouvir a tua voz..mas pra onde ligo?
Onde estás M.?
Preciso falar contigo.
Ouvir-te.
Tudo isto parece um sonho, um pesadelo.
Tudo isto parece irreal, surreal.
Não tenho quem me limpe a ferida.
A ferida que teima em não sarar.
Não fecha.
Para quando a cicatriz?
Eu não quero uma cicatriz!
Quero apenas que esta ferida desapareça e que tu voltes M.
Por favor, volta.
O tlm toca..era o teu número, ainda existe.Tudo existe, tudo e, mais ainda, a ferida...tudo existe, tudo, todos.. menos tu.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Descansa em Paz

Faz hoje precisamente um ano que soubemos verdadeiramente o mal que tinhas M.
Fez ontem duas semanas que nos deixaste.
Tenho andado a tentar ganhar coragem para vir aqui...já não o fazia desde Novembro, desde então que tens lutado ainda mais incessantemente contra esse mal q se apoderou de ti e que te derrotou, lutaste contra o cancro e agarraste-te à vida de uma maneira incrível de uma maneira que jamais te vi lutar contra as adversidades da vida.
Tu sim, és um corajoso, um lutador, um exemplo de vida a seguir para todo o sempre.
Lutaste até ao fim, até aos teus últimos suspiros. Lutaste de tal forma que deixaste de respirar e o teu coração fraco ainda batia, leve mas batia, até que te fecharam os olhos e percebi que foste vencido.
Quero vingar-me deste mal que se apoderou de ti e de todos..apenas isso me transtorna a alma mas quero vingar-me de uma forma digna e honrar-te pela pessoa que foste, que és e serás.E a única maneira de o fazer é contar a tudo e a todos a Força que o meu M. teve até ao fim.
Por isso, se alguém estiver por aí pode contar com o meu apoio incondicional, não quero cair em 'lugares comuns' por dizer que a luz da esperança nunca se pode desvanescer, ou que vale a pena lutar sempre com todas as armas mas, que tudo isto vale a pena, vale.
E o Amor, a Família, os Amigos são das melhores armas que um doente pode ter e que ajudarão a travar as várias batalhas que tem pela frente.

Tenho a mente ainda muito fresca, na qual se atravessa um Turbilhão de emoções mas não importa, estou aqui para o que der e vier, estou aqui para quem precisar de uma mão amiga, de um ombro ou apenas de palavras de conforto e força, coragem de um coração que se fortaleceu embora pareça pequenino demais neste momento.

Um beijo M. sei que estejas onde estiveres também passarás por aqui ;)
Amo-te muito e descansa em Paz

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"The gentil Art of Hearing"

A notícia de que alguém tem cancro passa-nos despercebida, ficamos com um sentimento de alívio por ser alguém distante, por não sermos nós ou um familiar nosso.
É triste mas é verdade.
Acontece o mesmo com os sem-abrigo, passamos por eles como se fossem transparentes, excluídos da sociedade, como se estivesse intrínseco na essência humana gostar de viver na rua, abandonado, sem família, sem amigos, fugir de tudo e de todos, andar sempre com o coração nas mãos, não saber sequer se se vai chegar ao final do dia, o que comer, o que pedir, onde dormir em segurança, quente.
O melhor filme que vi até hoje e que reflecte bem a visão panorâmica que a sociedade tem sobre os sem-abrigo está aqui, passa-se em Sidney e em Nova Iorque, mas poderia passar-se em Portugal ou em qq outra parte do mundo.
Relacionar um sem-abrigo a um doente terminal com cancro, pode-vos parecer absurdo, mas se pensarmos bem permitam-me fazer a analogia.
Tenho esse direito, tenho esse dever. O dever de alertar as pessoas para pequenos gestos, um sorriso, uma palavra, uma visita, um abraço pode fazer toda a diferença.
"The gentil Art of Hearing"

O som das Aves

Diálogo entre dois funcionários da recepção do hospital de dia:

- Novidades hoje?
- O normal, tens aí os internamentos para cirurgia, mas já adiantei a maior..
- Ah boa..e mais?
-Nada de especial, tb já mudei a água aos piriquitos e dei-lhes comida ;)







Já fumava!

Pena ser de plástico!


Passam por ela mas ninguém a vê!
As emergências acontecem...e aqui, todo o dia sem excepção.
Já ninguém liga às placas, às regras hospitalares, aqui faz-se o que se tem de fazer.
Não é numa situação de emergência que se vai ler regulamentos, rever leis, regras.
Todos sabem de cor o q fazer.
Há familiares nos corredores, não há horas de visita, de entrada e de saída.
Nos outros sectores, todos se queixam.Ou é porque não deixam entrar mais do que duas pessoas por doente, ou é porque o horário é mau, etc.
Trocam-se os passes de entrada, trafulha-se o segurança...e os portugueses são bons nisso, contornam as regras, é o que de melhor este povo sabe fazer!

Dêem-se por satisfeitos por terem regras, façam o que têm a fazer para ver os vossos ente queridos, pior seria senão tivessem que o fazer, seria mau sinal, seria sinal que teriam de seguir o corredor até ao hospital de dia.


















A Luz?






Estranha esta luz reflectida na parede do hospital...ao meu olhar passo por ela, sedutora, brilhante, aclamando algo. Algo que não compreendo, algo que me é distante mas que me toca tão perto, será que mais alguém a viu?
..tenho a certeza que sim.
Aqui, olho para as paredes, vazias, sinto no corpo tb um enorme vazio, um vazio de impotência, de querer fazer mais e não conseguir, mas porquê? Porque é que não conseguimos fazer algo mais? Ok não sou médica, mas tb os médicos já fazem o q podem, será?!
Dúvidas e incertezas, paredes vazias.
Sinaléticas frias que orientam quem passa, quem entra, quem fica, quem segue a luz, quem luta contra ela.
Certezas?Ninguém as tem, disso tenho eu a certeza.

Saber escrever é um dom!Saber Expressar-se é uma dádiva

A melhor definição para fragilidade que já li até hoje, tá aqui