sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"The gentil Art of Hearing"

A notícia de que alguém tem cancro passa-nos despercebida, ficamos com um sentimento de alívio por ser alguém distante, por não sermos nós ou um familiar nosso.
É triste mas é verdade.
Acontece o mesmo com os sem-abrigo, passamos por eles como se fossem transparentes, excluídos da sociedade, como se estivesse intrínseco na essência humana gostar de viver na rua, abandonado, sem família, sem amigos, fugir de tudo e de todos, andar sempre com o coração nas mãos, não saber sequer se se vai chegar ao final do dia, o que comer, o que pedir, onde dormir em segurança, quente.
O melhor filme que vi até hoje e que reflecte bem a visão panorâmica que a sociedade tem sobre os sem-abrigo está aqui, passa-se em Sidney e em Nova Iorque, mas poderia passar-se em Portugal ou em qq outra parte do mundo.
Relacionar um sem-abrigo a um doente terminal com cancro, pode-vos parecer absurdo, mas se pensarmos bem permitam-me fazer a analogia.
Tenho esse direito, tenho esse dever. O dever de alertar as pessoas para pequenos gestos, um sorriso, uma palavra, uma visita, um abraço pode fazer toda a diferença.
"The gentil Art of Hearing"

O som das Aves

Diálogo entre dois funcionários da recepção do hospital de dia:

- Novidades hoje?
- O normal, tens aí os internamentos para cirurgia, mas já adiantei a maior..
- Ah boa..e mais?
-Nada de especial, tb já mudei a água aos piriquitos e dei-lhes comida ;)







Já fumava!

Pena ser de plástico!


Passam por ela mas ninguém a vê!
As emergências acontecem...e aqui, todo o dia sem excepção.
Já ninguém liga às placas, às regras hospitalares, aqui faz-se o que se tem de fazer.
Não é numa situação de emergência que se vai ler regulamentos, rever leis, regras.
Todos sabem de cor o q fazer.
Há familiares nos corredores, não há horas de visita, de entrada e de saída.
Nos outros sectores, todos se queixam.Ou é porque não deixam entrar mais do que duas pessoas por doente, ou é porque o horário é mau, etc.
Trocam-se os passes de entrada, trafulha-se o segurança...e os portugueses são bons nisso, contornam as regras, é o que de melhor este povo sabe fazer!

Dêem-se por satisfeitos por terem regras, façam o que têm a fazer para ver os vossos ente queridos, pior seria senão tivessem que o fazer, seria mau sinal, seria sinal que teriam de seguir o corredor até ao hospital de dia.


















A Luz?






Estranha esta luz reflectida na parede do hospital...ao meu olhar passo por ela, sedutora, brilhante, aclamando algo. Algo que não compreendo, algo que me é distante mas que me toca tão perto, será que mais alguém a viu?
..tenho a certeza que sim.
Aqui, olho para as paredes, vazias, sinto no corpo tb um enorme vazio, um vazio de impotência, de querer fazer mais e não conseguir, mas porquê? Porque é que não conseguimos fazer algo mais? Ok não sou médica, mas tb os médicos já fazem o q podem, será?!
Dúvidas e incertezas, paredes vazias.
Sinaléticas frias que orientam quem passa, quem entra, quem fica, quem segue a luz, quem luta contra ela.
Certezas?Ninguém as tem, disso tenho eu a certeza.

Saber escrever é um dom!Saber Expressar-se é uma dádiva

A melhor definição para fragilidade que já li até hoje, tá aqui

terça-feira, 17 de novembro de 2009

“You must not for one instant give up the effort to build new lives for yourselves.”—Daisaku Ikeda

Acabei de criar este blog e não consigo parar de escrever, é normal, tinha isto cá dentro guardado em mim...mas o pior é que tenho muito mais, mas tenho que ir descansar, amanhã, amanhã não, hoje acordo às 6h da manhã e tenho de estar fresquinha para mais um dia de luta.
O J. e o J. já dormem, vou fazer-lhes companhia.Eu e a E. a minha companheira, não me larga e sente, sente tudo.Passo-lhe a mão pelo pêlo, parece um peluche branquinho, é linda, amiga. Dizem que quem tem animais em casa não vive tão stressado, é verdade, a E. acalma-me, mas às vezes parece que passou por aqui um furacão :)
Continuo inconformada, é verdade e não espero que um dia isto me passe, não vai passar, o meu irmão está a sofrer e isso é revoltante, é duro, é triste.
Escrever faz-me bem, prometo continuar a contar o que me vai na alma, apesar de não ter um final feliz, esta história merece ser contada e eu vou fazê-lo.Hoje dei o primeiro passo de muitos. Tenho fotos, imagens, tenho palavras e um sem fim de ideias, um turbilhão de emoções que tenho, devo deitar cá para fora...

Individually, we are one drop. Together, we are an ocean

Muitas coisas acontecem num ano!Mas é impressionante como passa depressa!
De 2008 para 2009 sinto que cresci mais um bocadinho, não de corpo como é óbvio, tenho 33 aqui já não cresce mais nada, a não ser pêlos e cabelo e se não tiver cuidado cresço prós lados tb, mas sinto que cresci interiormente. Aprendi a lidar melhor com as pessoas, a ouvi-las melhor para poder lidar com elas e perceber quando estão a ser sinceras, a jogar pelo seguro ou a serem falsas. Todos nós temos algo a dizer e ninguém é excepção. É por estas e por outras que quando andava no secundário queria ser antropóloga, conhecer melhor a origem do homem, estudá-lo, tudo para poder perceber melhor a humanidade.
Às vezes não me apetece falar, mas tenho que levar com este ou aquela, então lanço um tópico de conversa e eles falam falam e falam, há sempre algo a dizer, opiniões a dar, o tempo isto, o tempo aquilo...é ridiculo. Mas é a sociedade que temos, somos as pessoas que somos, ponto.

Também aprendi a conhecer melhor a minha família, sofri grandes desilusões, mas pq sou parva também, nada que não me tivessem avisado ou percebido, mas tenho este dom da parvoíce, o dom de querer acreditar que as pessoas mudam ou melhor o de querer acreditar naquilo que os meus olhos vêem e não naquilo que os outros me contam.
A M. já me tinha avisado que a L.não era flôr que se cheirasse...não percebi logo, aprendi da pior maneira, mas cresci e tou orgulhosa de mim.

E continuo a acreditar que : “Individually, we are one drop. Together, we are an ocean.”

Celebrar a vida com a morte tão perto

O aniversário do meu irmão N. em Fevereiro de 2008, foi um dia para esquecer, estava ainda muito viva na memória a morte do nosso mano mais velho JJ. Mesmo assim, fizemos um esforço para cantar os parabéns e soprar as velas.Tive de sair da sala, pois pela primeira vez deu-me uma vontade incontrolável de chorar, mal as pessoas começaram a cantar.
Coitado do meu irmão N. estava devastado, eu senti.Foi um turbilhão de emoções nessa noite.

..era uma vez.

Liguei ao meu irmão mais velho com quem já não falava à mtos anos, não por mea culpa mas por esta indiferença que teima em atacar mtos dos meus familiares.
Quando era pequena adorava o meu irmão JJ, o mais velho, sempre lá e cá, mais lá, por África do que por cá, Portugal. Com uma vida muito própria, ao que dizem um bom vivant!É de família tb.
Liguei-lhe: -''Tou mano?És tu?'' e do outro lado a voz de sempre, amável, quente, a voz de mano mais velho. Passei ao Pai, um Pai que ainda hoje não sei porquê deixa de falar aos filhos, só porque sim, orgulho, será, não sei, feitio talvez.
Lá falaram, pai e filho, senti orgulho e emoção. Senti-me bem.
Trocamos sms, falámos mais umas poucas vezes mas a distância não dava para matar saudades e recuperar o tempo perdido. Teria que ir a Moçambique, pois um regresso a Portugal por parte do meu irmão mais velho era impensável, ficou prometido...
Passado pouco tempo, recebo um telefonema: "Tia, aconteceu uma coisa, tens de ser forte, o meu pai morreu!"
Foi em Fevereiro 2008 que perdi o meu mano JJ